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30.6.06

Não sei se há muito para festejar, mas o facto é que foi há um ano que este blog acolheu o seu primeiro post. Em caso de dúvida, festeja-se [confettis!!]. Façam o favor de desfrutar do segundo volume das compilações do nem1nome, tão convenientemente denominado de nem1ano! A originalidade que falta ao nome é compensada por um alinhamento que pretende, sobretudo, ter o mesmo efeito sobre o vosso Verão que o KGB tem(?) sobre a ressaca.

1. M.I.A. - One for the Head Skit
2. Jens Lekman - Sweet Summer's Night on Hammer Hill
3. Ivor Raymonde Orchestra - It's the Real Thing
4. Kanye West vs Jose Gonzalez - Get Em High
5. Ohmega Watts - That Sound (Quantic Soul Orchestra Mix )
6. Junior Senior - Shake Me Baby
7. The Pipettes - Dirty Mind
8. Copa 7 - O Circo
9. Geraldo Pino & The Heartbeats - Afro Soco Soul Live
10. Al Brown - Here I Am Baby
11. DJ Shadow - This Time
12. Phoenix - Sometimes in the fall
13. Silver Jews - How Can I Love You (if yo Won't Lie Down)
14. Desmond Dekker - Beautiful & Dangerous
15. Huey 'Piano' Smith & The Clowns - Don't You Just Know It
16. Quantic & Mr Scruff - Giraffe Walk
17. M.I.A. - 10 Dollar
18. Lady Sovereign - Random
19. Terrakota - Bolomakote
20. Bonga - Balumukeno

:::AQUI:::

PS :: Mais uma vez, arte gráfica assinada pela caneta do jovem promissor, aspirante a boémio,
MCZ. Não basta agradecer, fico-lhe a dever uma bebedeira com vinho carrasco e elevado teor alcoólico.

55 + 54 faixas.... "balumu" -- BA ODJA (1976) + "Ni nhang ete" -- NGONGO (198?)

Depois de 365 dias a seleccionar faixas e projectos de paixão, o nem1nome saiu à rua com vontade de encontrar algo verdadeiramente único. Curiosamente voltou a encontrar sons de África, e não é difícil perceber porquê. A música africana está nesta cidade, está neste país, está em quem para cá emigrou, em quem de africanos descendeu, e vai estando cada vez mais para quem a sabe receber. Ontem a origem do blues e a kora mágica a embalar uma multidão atordoada no pulmão verde, hoje kuduro a pôr tudo de cócoras no miradouro do Adamastor, amanhã revisão sobre a história de Angola de ’72 a ’74 pela mão de quem sabe, uns dias mais tarde o crioulo articulado em rimas certeiras e batidas urbanas. O som do continente negro deixou de estar “aqui ao lado” para passar a estar “aqui”.

Felizmente, o espólio musical deste continente tem sido alvo de muitas e boas edições/compilações ao longo dos últimos anos. De quando a quando é dado a conhecer ao melómano ocidental um ou outro projecto mais ou menos obscuro e de relevância pouco menos que histórica. Não é bem o caso dos sons que o nem1nome tem para vos oferecer neste dia. Para festejar condignamente o aniversário do blog, o povo do nem1nome (desta vez foi mesmo mais do que uma pessoa) tratou de vos arranjar dois inéditos – leia-se, duas faixas nunca antes editadas, músicas que nunca viram a luz do dia e que viveram (?) tempo demais em bobines abandonadas ao pó em estúdios há muito encerrados. Sintam, portanto, o privilégio de as escutar.

Estas duas gravações, sobre as quais pouco mais se sabe que o nome dos artistas e das respectivas faixas, não fizeram nada demais para saírem do esquecimento público. Não são momentos de génio, não são golpes de asa, não são elementos essenciais na cultura musical de qualquer pessoa, mas merecem um lugar no coração deste blog por terem sido resgatadas directamente das bobines (masters) – adquiridos ao esmeradíssimo senhor Ismael, uma lenda viva na Feira da Ladra – exclusivamente para este espaço. Por outras palavras: neste momento, estas músicas só existem aqui e dificilmente passariam da calçada que ladeia o Panteão Nacional se assim não fosse. Vamos então a factos e números. Num canto temos uma dupla do Mindelo que em 1977 descobriu a ponte perfeita entre as mornas locais e uma guitarra vinda do outro lado do atlântico – mais precisamente do México – no outro canto a prova cabal de que o afrobeat digital chegou aos PALOPs – mais precisamente a Angola.


Da dupla cabo-verdiana pouco se sabe, mas o que se sabe vai chegando para alimentar a curiosidade. Os manos Odja eram um duo de guitarristas, irmãos nascidos no Mindelo, que chegaram a Lisboa em 1976 com uma guitarra em punho e uma ou duas fintas para mostrar – Francisco Odja, o mais novo dos irmãos, chegou mesmo a jogar nas camadas jovens do já extinto Recreativo d’Arroios. Consta que se tornaram lendas da boémia lisboeta e que cantavam o Tejo como ninguém desde que animados por um qualquer substituto de grogue (e por mulheres, claro). A faixa que o nem1nome resgata é uma das raríssimas gravações dos manos Odja. Apesar de instrumental, é suficientemente evocativa para nela vislumbrarmos a sua vincada herança cultural. Uma curta mais intensa viagem que cheira mais a Rua da Judiaria e Largo de S. Miguel do que muito do fado que nos vai sendo dado a provar, um diálogo aberto entre duas guitarras que se batem para comover a saudade sem que a tenham que gritar.


Se dos Odja pouco se sabe, o que dizer dos Ngodo (ou ngondo:: a inscrição nas bobines não é elucidativa)? Gravação única, anónima, que evoca com digital propriedade a República de Kalakuta e que anda algures entre o afrobeat mais cortante de Fela e uma postura assumidamente jazzy. Ao longo de 1.28 minutos de gravação, os Ngongo juntam à festividade uma admirável soltura criativa, deixando para a posterioridade um dos poucos (?) rastos de intervenção angolana sobre o espólio da capital Kuti. O registo: electrónico. Esclarecedor relativamente à contemporaneidade desta faixa, mas que abre portas a uma questão pesada. Será este o som de uma África que recebe o influxo da cultura ocidental? Seria abusivo pensar assim – para esse tipo de conspurcação recorra-se aos clips da RTP África e opte-se por um, entre muitos, dos 50 cents de Luanda – e a leitura deve ser claramente outra. África faz-se valer das ferramentas do Ocidente, vendo nelas o que elas são: ferramentas. Nem menos, nem mais. O meio, para chegar a estes dois preciosos fins (SAQUUEEEEEEEEM!!!):

BA ODJA "BALUMU"

NGONGO "NI NHANG ETE"


Depois de uma primeira experiência gratificante , o nem1nome voltou a recorrer aos préstimos de terceiros para ilustrar aquele que é um post muito especial. Assim sendo, e fazendo questão de referir que todos estes trabalhos são apenas e só produto da inspiração dos seus autores, o nem1nome revalida agradecimentos ao psychoequalizer pelo arranjo gráfico do blog (e, já agora, à respectiva pandilha da choldra) e à soulsista #1 pelas ilustrações no post Jay Dee, e estende-os agora ao estreante mcz pelas magníficas ilustrações de aniversário. Para qualquer contacto profissional, disponham. Activem o lobby: comissão movida a cevada.

21.6.06

56 faixas.... "your kisses are wasted on me" -- the PIPETTES -- (single) (2006)

É preciso ser uma pessoa optimista para declarar aberta a silly season. Quem o faz vive alheio a uma realidade pouco menos que óbvia: a demagogia não é sazonal, a estupidez ainda menos. A exposição prolongada a raios solares costuma ter um efeito perverso na soltura verbal de alguns elementos que compõem a nossa (e outras) praças públicas, mas a menos que se convencione que a dita época tem a conveniente duração de doze meses, a designação esvaziar-se-á de interesse. Não obstante, o Verão é rico em ocorrências que nos podem levar ao desespero (dá-me ideia que o Paulo China é o tipo que mais vejo no Verão, apesar de não o conhecer pessoalmente) e que nos pode levar a perguntar: mas o que é que esta gente tem na cabeça?

Desenganem-se os que pensam que vou continuar a dar azo ao espírito luso e a malhar nessa massa incógnita, conspirativa e ambígua que é o “eles” – essa parte já despachei. Esta é precisamente a altura em que não é preciso pensar o que esta gente guarda na cabeça e, se o Estio é uma batalha intelectual irremediavelmente perdida, mais vale munirmo-nos de uma resposta à altura aos impropérios da época. Passemos então ao que interessa: a música para nos encher as orelhas durante um Verão que se quer bem imponderado, vazio e salgado.


Vindas da sempre agitada cidade de Brighton, as Pipettes são um grupo de raparigas que gostam de vestidos às bolinhas e de penteados adequadamente (?) retro. Juntaram-se recentemente (tão recentemente que ainda não têm groupies) sob o auspício de um produtor com vontade de recriar e actualizar o som preconizado por Phil Spector e que para o efeito arranjou três caras e uma xaropada pop que encontrou sede na mesma editora que a não menos que amável e indispensável go!team ( e que bela adição são ao roster desta editora que, depois de apostar em força nas cheerleaders da !team se vira agora para as majorettes), e após encharcar o airplay alternativo com singles em formato melaço revisionista, conseguiu finalmente lançar o seu álbum. As letras não se afastam muito da temática gajo/djinga/gosto/sexo/agora e a música em si não foi feita para ser levada demasiado a sério – uma louvável alternativa aos gajos pretensiosos, deprimentes e enfadonhos de morte (e ainda por cima com aspirações intelectuais/sociais/conceptuais) que normalmente pululam no nem1nome.

Há um adjectivo que, apesar de terrivelmente pejorativo nestas coisas das escríticas musicais, assenta na perfeição ao som das pipettes: giro! Posto isto, não sobra muito para dizer, a não ser que todos temos direito a, pelo menos durante uns tempos, dar descanso à massa cinzenta. Está para nascer o ser humano capaz de evitar o trauteio e a dança ao som destas meninas. Por um mundo um bocadinho menos sisudo, em nome da diversão vazia, mas ainda assim cheia de si mesma … as meninas Pipettes. Silly enough?

the pipettes - your kisses are wasted on me