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4.10.06

51 faixas…. “new song” – NOMO – new tones (2006)

O afrobeat enquanto género musical, alicerçado em elaborada polirritmia de ascendência africana, metais em ponto de fusão e palavras de instigação, é um estilo que clama desesperadamente para ser reinterpretado e revisto. Apesar de ter tudo para o ser, na maior parte dos casos é apenas revisitado ou regurgitado segundo a mesmíssima fórmula que o viu nascer e inflamar Lagos há algumas décadas atrás. Não que isso seja necessariamente mau – que o digam os felizardos que assistiram este ano à explosiva e memorável reincarnação de Fela Kuti em Sines – mas a abordagem preguiçosa à fórmula vencedora da herança deste ícone incontornável nunca será fiel ao afrobeat, uma vez que falha na sua premissa mais pura e fundamental: a insurreição.



Até à data têm sido os agentes da música electrónica (dançável ou não) e do hip hop os principais responsáveis pela tentativa de recuperação e revitalização deste legado. Se por vezes a coisa até corre bem e se atingem resultados interessantes, a verdade é que na larga maioria dos casos o afrobeat é tratado como conversa de elevador, linha cosmética de segunda categoria que agrada ao primeiro contacto (?) e enjoa ao segundo.

A música do colectivo de jazz dançável nomo vence precisamente por contrariar essa tendência, ainda que displicentemente, de todas as formas e feitios. Nomo cultiva o espírito intervencionista – o rastilho para new tones é a política externa do governo Bush (amarga e prolífica, esta Era) – e, apesar de ser uma formação verdadeiramente clássica no que a afrobeat diz respeito, consegue afirmar-se positivamente pela sua – queixo no chão – originalidade.



As composições nomo são de uma densidade inacreditável. Tudo é cor e calor na secção de metais, nas linhas de baixo pouco menos que ilícitas e na guitarra arrastada e encantatória. Mas, bem vistas as coisas, não seriam esses os trunfos deste estilo na sua década de ouro? Presumivelmente. Acontece que os nomo fazem da malha afrobeat o seu ponto de partida, mas saltam rapidamente para loops de teclados devedores de soul vintage, para flautas e percussões importadas de irresistíveis exercícios funk, para uma serralharia que só eles conhecem – sim, também gostam de inventar instrumentos – para os likembé electrificados dos konono, para o desvairo apaixonado do free jazz de Albert Ayler circa Ghosts. Em suma, um conjunto de referências – entre muitas outras – que estaria certamente destinado ao naufrágio se não fosse capitaneado por alguém incrivelmente talentoso na arte da composição: Elliott Bergman.



É este o refrescante compositor que cita M.I.A., que pede uma faixa emprestada à harpista desalinhada que dá pelo nome de Joanna Newsom, que pega em mil-e-um instrumentos para levar ao delírio audiências um pouco por todo o mundo com a sua visão absolutamente redentora – quase religiosa, gospeliana – da cumplicidade musical. É cada vez mais raro encontrar música assim: sem filtros, crua ao toque e ainda assim celebrativa. Começou por ser banda-sonora de Verão, continua a imperar no Outono. Não é preciso muito para perceber que vai suportar lindamente o Inverno e tudo o resto.

nomo :: NEW SONG

4 Comments:

Blogger andrzej said...

Caio, respondi-te por email. Fica bem!

1:19 da tarde  
Blogger dominguez said...

Gosto de te ler, chêdas. Keep it up!

6:49 da tarde  
Blogger andrzej said...

Obrigado Vasco! Volta sempre :)

5:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Nice brief and this mail helped me alot in my college assignement. Thanks you on your information.

5:38 da tarde  

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