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12.1.06

69 Faixas.... "spirits" -- ALBERT AYLER -- Lörrach, Paris 1966 (1966)

Albert Ayler é uma das figuras maiores da história do free jazz. Esta introdução seria mais do que suficiente para me afastar de muita e boa referência musical sem sequer pestanejar. Não consigo deixar de dissociar um certo sentido de inconsequência de algumas concepções ou visões musicais, nomeadamente dalgumas que se refugiam em epítetos sobranceiros como, neste caso, free. Música que precisa de se adjectivar como livre é música a precisar de urgente revisão e, se o jazz se pretende efémero, que o afirme por ser raro ao ponto de se tornar irrepetível e não por ser redundante ou infundado. Mas como estas etiquetas costumam ser atribuídas por quem nelas se tenta refugiar…

Voltando ao início: Albert Ayler é uma das figuras maiores da história do free jazz, saxofonista de percurso errático e mal calculado cuja obra só conheceu verdadeira aceitação depois da sua morte. Desenvolveu uma sonoridade de marca que aliava a espiritualidade das marchas de new orleans ao aparente caos das suas composições. O resultado final era, no entanto, impecavelmente lúcido. Caleidoscópio estapafúrdio, objecto simultaneamente capaz de maravilhar e repelir, que se sente espinhoso à superfície mas apelativo e contagiante no âmago.

No meio da confusão das composições de Ayler há, sem sombra de dúvida, um apelo verdadeiramente íntimo e caloroso. Por entre os vários trechos que compõem estas cacofonias revela-se uma lógica que, de tão pessoal que é, se estatela precisa e recorrentemente no mesmo caos em que a humanidade faz o favor de se espetar a cada dia que passa. Erráticos como não conseguimos deixar de ser, atarantados por sucessões de pensamentos, ideias e objectivos difusos, continuamos a correr ao sabor da música que nos toca. E é música desta que nos toca: o nosso mundo visto de lá de cima, onde todo o ruído e obsessão pessoal se diminuem para deixar passar a melodia. Música inspiradora ao ponto de nos parecer cinematográfica, de nos fazer construir e desenvolver a nossa própria visão e versão dos acontecimentos.

Existirá porventura um melhor adjectivo do que free para descrever o jazz de Ayler: jazz aberto. Aberto porque, como a vida deste compositor e intérprete, este é um som que se presta a múltiplas e até contraditórias interpretações, um som feito à medida de quem o souber ouvir. No final da sua carreira Ayler tentou suavizar as suas composições – o que lhe terá valido o desprezo de quem até essa altura prezava o seu espírito aventureiro e a indiferença de quem se tinha habituado a ver nele uma figura maldita do jazz – sem que com isso alcançasse maior volume de vendas ou reconhecimento generalizado. Não demorou muito para que o seu corpo fosse encontrado a flutuar no East River de Nova Iorque, em circunstâncias ainda hoje mal definidas (a verdade andará algures entre um acidente improvável e um assassinato conjurado pelo FBI como forma de controlar a acção do grupo Black Panthers). A sepultura de Ayler indica que este faleceu no Vietname: sublime e irónica maneira de assumir a realidade sem precisar de a esfregar na cara de ninguém… Precisamente aquilo que Ayler se havia dedicado a fazer ao longo de toda a sua vida.

ALBERT AYLER "SPIRITS"

2.1.06

Na sequência de um repto lançado por uma troupe cibernética de melómanos, tratei de organizar uma lista com aquilo que mais prazer me deu ouvir em 2005, sabendo à partida que isto das listas tem muito que se lhe diga. É uma prática altamente falível e apetece até visitar um lugar comum para dizer que, se por algum acaso eu organizasse uma nova lista amanhã, ela seria tremendamente diferente desta que aqui deixo. É capaz de ser patológica esta necessidade dos melónamos em compilar tudo a que a música diz respeito, mas não ofende listar:

nem1nome apresenta:
facturação musical de 2005

20. Iron & Wine/Calexico "in the reins"
19. Josh Rouse "nashville"
18. Melo D "chega de saudade"
17. Lindstrom & Prin Thomas "lindstrom & prin thomas"
16. Joe Bataan "call my name"
15. Ry Cooder "chavez ravine"
14. Konono n1 "congotronics"
13. LCD soundsystem "lcd soundsystem"
12. Animal Colective "feels"
11. Common "Be"
10. The National "alligator"
9. M.I.A. "arular"
8. Fat Freddy's Drop "based on a true story"
7. The Go! Team "thunder, lightning, strike" (limited bonus disc edition, i.e., a forma sorrateira que arranjei de espetar isto numa lista de 2005)
6. Jamie Lidell "multiply"
5. Kanye West "late registration"
4. Ali Farka Touré & Toumani Diabaté "in the heart of the moon"

3. Sharon Jones & the Dap Kings "naturally"












2. Amadou & Mariam "dimanche a bamako"













1. Sufjan Stevens "illinois"













Referência ainda para três compilações INCONTORNÁVEIS:
Soul Gospel (soul jazz); Kings of Funk (rapster records); Run the Road (vice/atlantic)

Como podem constatar, falta aqui muita música boa de 2005. Façam o favor de me ajudar a eliminar omissões imperdoáveis, sugerindo álbuns que vos tenham resgatado do fosso, que vos tenham posto a dançar em roupa interior para os vizinhos, ou que vos pareçam, pura e simplesmente, interessantes.

[Está reactivado o link para o... erm.... EP "Um mundo, uma djinga!" Ao que parece a fonte do yousendit secou rápido, por isso voltei a experimentar o RapidShare. Para instruções sobre como fazer download neste site basta aceder a secção de comentários do post sobre the go!team.]