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18.10.05

76 faixas…. “Banshee Beat” – ANIMAL COLLECTIVE – Feels (2005)

A história da música pop vive atormentada por uma série de preconceitos e de ideias formatadas que, demasiadas vezes, impedem a natural evolução das coisas. Felizmente, e neste caso a história não parece ter medo da repetição, de quando a quando surgem uns quantos eremitas que, com um manancial de ferramentas perfeitamente ordinárias, se atrevem a apontar novas direcções e a desbravar o manto sideral da polifonia sem nunca perderem de vista o propósito que as fez experimentar… a saturação dos formatos pop vigentes.


A linha que separa o experimentalismo sónico da celebração musical não é tão ténue quanto à partida se poderia supor… Aliás, o experimentalismo não tem grande valor – nem mesmo evolutivo – quando vago e distante da emotividade humana. Não basta ter ideias inovadoras, é preciso reportá-las a um plano bem concreto: a canção… esse recortado artifício da música, capaz de suscitar a maior das paixões e que, na sua pequenez, tantas vezes parece ser maior do que a própria vida. Alguém escreveu há uns dias atrás – e pela “enésima vez” – que “no dia em que toda a música desaparecer só nos lembraremos das canções”. Tem toda a razão…

Os animal collective gostam de experimentar, mas supõe-se que gostem ainda mais de contribuir para essa massa disforme e essencial que é a música pop. Aliam a composição de temas fortes a inflexões por caminhos menos óbvios e, em algumas circunstâncias, inovadores. Nem todas as pessoas fazem questão de perder tempo a identificar trechos de sonoplastias gore, ou a perceber porque é que uma batida autenticamente tribal casa bem com harmonias vocais em ecos prolongados à la beach boys… mas quando por trás destas ideias se esconde uma grande canção a história é diferente. É que todos nós vivemos (n)a esperança de encontrar boas canções.

A música dos animal collective borbulha de tanta paixão que envolve… é quase pueril na forma como se diverte com sons estranhos – como o crepitar de uma fogueira – e alude ao imaginário, mas é profundamente adulta quando enfrenta as feridas da maturidade pós-adolescente e assume a sua displicente vontade de encantar. É uma música traçada entre o orvalho matinal de uma qualquer planície perdida e um crepúsculo interrompido… é, sobretudo, um território musical novo, em que as canções não são compostas, mas antes semeadas...

Os AC criam em “banshee beat” uma espécie de alegoria da piscina: a alegoria que conforta todos aqueles que vivem molhados e que promete calor e conforto em tempos de frio e distanciamento. Uma homenagem a todos aqueles que vivem a vida pela vida, e pelo amor que a move… os que batem no fundo – e têm a coragem de o admitir – para voltarem à superfície para tudo o que é essencial. Prioridades…

There'll be time to get by, to get dry after the swimming pool
there'll be time to just cry, I wonder why it didn't work out
there'll be time to fish fry for letters by yours truly

I can't find you at our kissing place and I'm scared of those new pair of eyes you have
so I duck out and go down to find the swimming pool
hop a fence leave the street and wet my feet I'll find a swimming pool
cause when I'm snuffed out I doubt I'll find a swimming pool


O colectivo animal está neste momento a preparar em Lisboa uma digressão europeia. Portugal tem honras de abertura, com concertos em Coimbra (18 out, via latina), Porto (19 out, casa da música) e Lisboa (20 de out). O concerto da capital realizar-se-á num cacilheiro, no nosso Tejo… é o local especial que a música do colectivo merece. Façam-se acompanhar por quem de direito… vai ser uma noite para partilhar. Se ainda não se convenceram... ANIMAL COLLECTIVE_banshee beat!

13.10.05

77 faixas…. “bottle rock” – THE GO! TEAM – Thunder, Lightning, Strike (2004)

O nome desta banda diz muito mais do que parece. Aliás…para ser correcto, há que admitir que isto não é uma banda, isto é uma equipa…e, já agora, uma equipa imbatível. A ditadura de djinga de cintura que a go!team impõe a todo o pobre adversário que tente resistir ao delicioso novo groove de brighton chega a ser tirana… são batidas bem gordas, guitarras emo cheias de ganchos viciantes, letras a condizer (mas a condizer com quê?!?), harmónicas surripiadas a westerns, samples confiscados aos percursores do hippity hop no bronx dos 70’s, e uma dose considerável de sentido melódico – yup, ainda por cima parecem gostar de canções.

Ora…escrever um texto estruturado sobre o desempenho da go!team faz tanto sentido como perder tempo a perceber de onde veio um estalo DEPOIS de o levar… sinceramente, nestas condições, mais vale ensaiar um passo de dança suficientemente impressionante para nos fazer valer uma fuga airosa… uma fuga para o meio da acção, porque aqui ninguém desiste. Estamos no domínio do exercício delirante, em que as surpresas se sucedem a um ritmo quase desumano… basicamente, não há tempo para pensar muito. Há quem diga que a go!team nos fez o favor de recuperar o ambiente das séries de acção da década de oitenta (a-team anyone?), há quem diga que constroem jingles perfeitos para os jogos olímpicos, há quem diga que são talentosos realizadores na arte do super-8, há ainda quem diga que a banda merece indiscutivelmente o ponto de exclamação que tem no meio do nome… e isto seria muito mais fácil se quem disse estas alarvidades não tivesse toda a razão do mundo.

Cada uma das faixas que compõe este monumental álbum é um verdadeiro e amável paradoxo… um aparente caos sonoro, uma imensa parafernalia de instrumentação (aquilo das paletes de cores e isso), a verdadeira cacofonia verdadeiramente pop, arranjos completamente imprevisíveis e uma produção bem caseira… tudo isto empacotado em musiquinhas bem redondinhas e adesivas (não… a sério! adesivas). Música que transpira a maior das confianças… o som de uma consciência tranquila que nem precisa de se aperceber da sua autenticidade e sinceridade, um som que põe tudo em perspectiva: a vida é curta, chuta para a frente. É de esquecer o que se diz… só mesmo ouvindo. Se não os consegues vencer, dá graças pelos ouvidos que tens.

Façam o favor de sacar: the go!team_bottlerock



PS_Os verdadeiros sunk foul brothers ainda têm a distinta lata de exibirem os melhores títulos para canções de todo o sempre! Senão vejamos: friendship update, everyone's a v.i.p. to someone, feelgood by numbers... E, para cúmulo dos cúmulos, arranjaram maneira de montar um site verdadeiramente hilariante. Incorrigíveis...