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19.7.05

78 faixas.... “John Wayne Gacy Jr.” – SUFJAN STEVENS -- Come on Feel the Illinoise (2005)


John Wayne Gacy Jr foi, durante a década de 70, um empresário bem sucedido da cidade de Chicago. Era um homem conhecido pela sua afabilidade e pelo seu empenhado envolvimento em diversas causas comunitárias. Uma figura tida como emocionalmente estável e considerada socialmente, um homem de família que dedicava o seu tempo livre a entreter crianças hospitalizadas envergando um fato de palhaço. Em suma, um exemplo a seguir, o modelo de um homem urbano.

É precisamente esta candura e dedicação que Sufjan Stevens homenageia na faixa “John Wayne Gacy Jr.” De guitarra em punho e recorrendo a três ou quatro acordes, Stevens constrói uma canção imensa e imensamente frágil, uma canção que ilustra e envolve a ambiguidade do comportamento humano numa delicada textura sonora que deambula entre a face mais negra e a face mais inocente do espectro da mente humana.


A ambiguidade que se canta aqui é a ambiguidade da vida de John Gacy e a de tantos outros. No fundo, é a ambiguidade própria de um mundo alimentado a ilusões em que as pessoas se esforçam mais por parecer do que por ser… e a vida de Gacy, sendo de extremos, ilustra perfeitamente esta dicotomia. Se por um lado havia a figura socialmente estável de um homem de família dedicado e com sucesso, por outro lado existia um assassino em série responsável por sucessivos episódios de violação, assassinato e necrofilia. Actos impensáveis, aos olhos de quem o conhecia. Apesar de ter chegado a cumprir uma pena em virtude de um caso de abuso sexual, Gacy foi-se esquivando a uma série de outras acusações face à escassez de provas apresentadas pelas sucessivas acusações. Acabou sentenciado à pena de morte, depois de terem sido encontrados cadáveres de 33 jovens soterrados no seu quintal. Gacy não se coibiu de gabar o seu registo como digno do livro de recordes de Guiness.

De pouco serve tentar compreender o que leva alguém a agir desta forma se não se compreender de início que por trás da natureza horrífica destes actos se esconde uma mente completamente afogada em questões e frustrações… e talvez não seja de desprezar o facto de Gacy ter sido atingido na cabeça com um baloiço enquanto criança. Compreendendo tudo isto, Sufjan Stevens fez-nos o favor de desenvencilhar todo um novelo de tramas e perturbações, desmistificando em poucos minutos a complexidade da mente humana. Só precisou de três ou quatro acordes e de um sussurro… no fundo, uma canção do tamanho do mundo, uma canção sobejamente profunda para nos por em contacto directo com as mais profundas desumanidades… e para nos mostrar que tudo isto são expressões de pura humanidade… e isso é o máximo que se pode exigir a uma canção.



"...At my best, I’m just like him!"

Stevens é um jovem norte-americano que abraçou a missão de uma vida ao propor-se a gravar um álbum postal por cada estado dos EUA. Dois já estão… faltam 48. Er… ok, talvez não sejam 48, visto que Stevens admitiu recentemente que nunca seria capaz de gravar um álbum sobre o Texas. Depois de percorrer os enormes lagos de Michigan, Sufjan resolveu visitar Illinois…
Num registo semi-panfletário extremamente dinâmico, o jovem cantautor vai debitando lições de composição musical, num equilíbrio cuidado de coros em crescendo, silêncios cortantes e apontamentos de banjo simplesmente indispensáveis ao comum mortal. No fundo, este álbum é a face musical de um daqueles livros didácticos cheios de desdobráveis tridimensionais… ensina e deslumbra.

file_under :: subpop caramelizada a banjo com apontamentos pastorais

Sufjan Stevens "John Wayne Gacy Jr."