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18.5.06

59 Faixas.... "eye of danger" -- MICHIGAN & SMILEY -- Rub-A-Dub Style (197?)

Não é possível contabilizar a brutal quantidade de edições de reggae e derivados que ao longo das últimas quatro décadas a Jamaica foi oferecendo ao mundo. Ainda hoje aparecem gravações inéditas que, depois de estágio prolongado em caixotes empilhados em estúdios de gravação há muito encerrados, se dão a ouvir em primeira-mão através de compilações oportunas (e nada oportunistas) que alguns melómanos fazem o favor de editar.

Jamaica, land of plenty. Talvez seja limitação de quem vos escreve, mas precisei de tempo para conseguir compreender qual a sinistra razão que transformou a produção musical jamaicana, desde a década de ’60, numa actividade estupidamente prolífica. O cenário social deste país nos anos da ascensão e afirmação do reggae era pouco diferente de outros cenários que serviram de base à democratização de estilos como, por exemplo, o hippity hop: pronunciado fosso social, guetos sobrelotados, marginalidade. A música, uma escapatória. No caso, o soundsystem. Potentes sistemas de som a debitar r’n’b norte-americano para alimentar corpos dançantes e sequiosos de festa, que foram abrindo o apetite (necessidade até) para uma criação musical nativa e digna da independência que a Jamaica celebrou em ’62. E assim se repetiu a história que recorrentemente atesta o carácter rústico da música: em terra de escassez, o som prolifera.
Multiplicaram-se as festas nos bairros de lata de Kingston, geralmente animadas por toasters e dj´s que, apoiados em soundsystems primitivos, tentavam dar à multidão a alegria que lhes faltava num quotidiano precário. Os soundsystems apareceram e venceram, e a disputa acesa entre os organizadores destas festas dançantes rapidamente deu origem a conflitos por vezes violentos (sim, o povo de Jah também sabe dar socos) e ao estabelecimento de estúdios que permitissem gravar sons mais apaixonantes e pulsantes do que os da concorrência. E, para o bem ou para o mal, é aqui que está a raiz mestra da prolificidade da produção musical jamaicana: músicos de estúdio.

Os produtores/donos de estúdios pagavam a músicos para gravarem faixas atrás de faixas, proporcionando algo que sempre parecera uma miragem nos guetos de Kingston: um ordenado. Pode parecer particularmente contraditório que o cifrão – símbolo supremo da Babilónia, terra de perdição aos olhos do Rastafarianismo – tenha sido o impulsionador mor da música jamaicana, mas é importante compreender que nada disto corrompeu a pureza e beleza da música que começava a fazer por merecer o título de jamaicana. Não se trata de dinheiro a conspurcar o som ou a criação. Trata-se sim do som de uma geração que soube levar a melhor e que deu um pontapé nos problemas que lhes imputavam. Bem vistas as coisas, todos temos a aprender com isto.

Fica aqui uma faixa a dois tempos. Arranca em modo roots e depois arranca para um final extradubby...

MICHIGAN & SMILEY "eye of danger"

1 Comments:

Blogger andrzej said...

Isso de falar ao Henrique fica à minha responsabilidade! Vamos ver o que se arranja.

Ao skavoovie king, desmond dekker, um merecido RIP.
"Demsond Dekkar!!!"

1Abraço!

4:50 da manhã  

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